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Intromissões Naturais - 2008/2012





Resumo>



Série de registros fotográficos da inserção de pequenas pinturas de vegetação, feitas em papeis rasgados, no espaço público. As pinturas foram amarradas em objetos do local, a partir do que foram produzidas as fotografias, as quais trazem a imagem pictórica incorporada ao espaço físico, de acordo com múltiplas perspectivas.







































































Memorial descritivo completo>



A superfície de uma pintura que visa representar determinada paisagem funciona como um recorte daquele ambiente. Enquadra-se a natureza e eterniza-se determinado momento. A pintura torna-se o registro não só do tempo-espaço dos elementos naturais, mas também o registro da expressão do pintor, em determinada fase de sua vida artística. Essa pintura, por sua vez, é comumente posta em exposição  no ambiente interno de algum espaço arquitetônico, promovendo interações do espaço retratado com seu(s) novo(s) ambiente(s), bem como com as pessoas com as quais porventura entre em contato. Em razão da tradicional durabilidade de uma pintura, essa interação tende a renovar-se incessantemente, num ciclo que produz intermitente interseção entre o momento em que a pintura foi concebida e seu estágio atual. 



Embora uma pintura paisagística tome, por base, elementos naturais, a sua produção, através da intervenção humana, como um bem cultural, coloca-a como pertence do meio artificial, no qual ela acaba por se inserir, ao ser conduzida para uma galeria. A paisagem representada torna-se parte de outra paisagem, fora do seu próprio contexto, trabalhando nova contextualização, em diálogo com as propriedades do local no qual estará em inclusa. Propriedades as quais variam das propriedades físicas - a arquitetura do espaço, até às propriedades de sua atribuição significativa - uma pintura no espaço de um consultório médico tem valor diferente de uma pintura num museu. 



A série Intromissões Naturais traça caminho contrário ao dessa dinâmica produtiva e expositiva. Nela, as pinturas de plantas e árvores, depois de produzidas, são reinseridas nas paisagens a partir das quais foram criadas, formando novas composições com seu próprio contexto de origem. Não obstante, outras subversões aos ditames habituais de produção pictórica são empreendidas. O espaço sagrado da tela dá lugar a pinturas em meros papéis rasgados de poucos centímetros, difíceis de se notar dentre a profusão de chamarizes visuais que permeiam o núcleo urbano, mas que, quando em enfoque, dançando ao acaso e ao sabor de pontos de vista, tomam perspectivas inusitadas, e compõem diversas interações com os locais nos quais estão colocados, ao mesmo tempo, integrando-se e destoando-se da ambiente. 

Amarradas às árvores de que derivaram, as pinturas, que procuravam reter forma e cor das figuras naturais, são acolhidas por essa paisagem como nada além do que algumas de suas folhas. Dessa forma, folha de papel pintada e folha botânica, bem cultural e bem natural, mesclam-se no palco multipolar da cidade, do qual o artista é apenas mais um dos milhões de figurantes. A pintura toma parte de um ciclo biológico de florescimento e decomposição, perde o espaço ao qual normalmente estaria relacionada, exibida, e reivindica novos espaços de exibição por entre as frestas de escapes da paisagem.



Resta, assim, apenas o registro das fotos, novamente, a eternizar um determinado momento sob as orientações do artista, organizando os símbolos do trabalho. Mais uma vez, um registro do tempo-espaço ambiente e da expressão artística do indivíduo. Se, outrora, a pintura exercia a função da fotografia, agora a foto sobrepõe o lugar da pintura, registrando a própria pintura a tomar parte do seu lugar de inspiração. Um pintura mecânica que demonstra o processo de uma pintura que, a exemplo de sua temática, torna-se orgânica, em comunhão a um meio que sofre diretamente os efeitos das intempéries do tempo.

O resultado surpreende justamente pela fidedignidade da cena captada, dotada de toques surreais e metamorfoses que se assemelham mais a imagens manipuladas digitalmente do que a um retrato vivo de determinado contexto da vida cotidiana. Embora sejam absolutamente reais, e demostrem os fragmentos da realidade pictórica dentro da realidade de um espaço a céu aberto, como um testemunho de irrealidades sob a ótica de interações adversas.

Por isso o nome Intromissões Naturais, seja por sua condição inerente a natureza humana de querer, intrometidamente, apropriar-se de e modificar o natural, seja pelo vínculo que a pintura cria quase que naturalmente com o espaço, quando nele colocada, embora não se homogenize totalmente a ele, guardando sua autonomia, atestado da sua intrusão, ou simplesmente pela causalidade com que se dá a articulação entre a pintura e o contexto na produção da obra, na qual o cálculo da criação artística está em perfeito equilíbrio com o que não pode ser controlado pela ação do artista.  





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Para aquisição de fotos da série que não constam na galeria, por favor, entre em contato com o artista aqui: 









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