top of page

Quadro Curinga - 2012





Resumo>



Instalação digital interativa que produz a modificação ao vivo de uma imagem em vìdeo captada continuamente dentro do espaço da exposição. Essa modificação é demarcada pela substituição da cor de um quadro monocromático que há dentro da galeria, e que é filmado pela câmera da instalação, por imagens de pinturas famosas da humanidade - técnica visual conhecida como Chroma Key. A imagem que resulta desse processo de tratamento é projetada na galeria em tempo real. Nesse circuito, o visitante que se coloque perto do quadro verde, se vê, na imagem gerada, próximo a uma pintura renomada.



























































 

 

 

Memorial descritivo completo>



Quadro Curinga é uma instalação digital interativa composta pela interseção entre o espaço físico da galeria e um espaço virtual, gerado pelo processamento, através de um software, da imagem captada desse ambiente expositivo. A instalação faz uso de um dos núcleos básicos relativos à pintura, o quadro, para constituir, através dele e da aplicação de uma técnica visual conhecida como Chroma Key, uma ponte virtual em que inúmeras representações de pinturas de renome da história da arte são apresentadas como se estivessem também à mostra na exposição. 



O visitante que adentra o espaço da instalação encontrar-se-á fisicamente ao lado de um quadro monocromático de cor verde. Contudo, na imagem gerada pelo programa - captada por uma câmera direcionada ao quadro verde, processada em tempo real e projetada na parede oposta - esse mesmo visitante ver-se-á ao lado de uma pintura famosa da história da arte.

Se o espectador emite algum som forte, como o som de uma palma, a pintura presente na imagem gerada pelo programa é trocada pela imagem de outra pintura de renome, e assim subsequentemente, de modo a colocar em prática a ideia do "curinga", em que algo pode assumir o valor de outro. Assim, na instalação, um quadro verde, desprovido de figuras, virtualmente assume o conteúdo pictórico produzido por grandes mestres da humanidade.  



Com isso, a obra procura mostrar como grande parte do repertório cultural pictórico que é assimilado inercialmente pelo imaginário coletivo, no qual a noção de arte ainda está bastante associada às categorias tradicionais, como a pintura, provem do conhecimento de reproduções das obras, e não das obras em si, as quais poucos têm condições de visitar efetivamente. Algo que é explicitado pelo fato de que, para que o visitante veja a imagem gerada pelo programa, ele deve se colocar de costas para o quadro verde. Deste modo, na imagem gerada, embora ele possa estar ao lado de uma pintura famosa, ele não estará contemplando-a, mas olhando em direção oposta a ela. O contrário também é significativo; se acaso ele olhe para o quadro verde, não poderá ver que na imagem resultante ele estará a olhar para uma pintura historicamente reconhecida.  

Tratando-se dessa abordagem do cânone pictórico da história da arte, também é demonstrado na instalação a trajetória iconográfica de tal imaginário coletivo, a qual se delimita por certas obras pontuais que, de tão conhecidas, aparentam já estarem presentes no conjunto de imagens mentais dos indivíduos desde sua nascença. Obras as quais, em sua maioria, são de países Europeus ou dos Estados Unidos, denotando o exacerbado cunho ideológico que há implícito na criação do ideal de Belas Artes, o qual é sedimentado nos países que seguem o padrão cultural ocidental em tal forma que a validação sócio-cultural acerca de muitas de suas formas de expressão ainda se mostra extremamente dependente de uma relação com essas obras modelo, já assimiladas culturalmente como valoráveis.  

Em outro sentido, o jogo representacional entre espaço físico e virtual propiciado por Quadro Curinga dialoga, diretamente, com elementos básicos relacionados à pintura. O que se tem é uma somatória de representações que inter-relacionam-se numa imagem projetada, cujo desdobramento se dá temporalmente, de acordo com a ação do espectador. Uma pintura em constante execução, que progressiva e incessantemente se constrói, mas que deixa aparente suas etapas de construção. O quadro verde, um quadro que remete às obras suprematistas ou concretas - ao esgotamento, limiar das possibilidades de questionamento da pintura - em sentido invertido, torna-se o reinicio, base para a volta à colocação de formas e figuras. E essa volta ocorre num modelo que imita virtualmente o uso de camadas de tinta, pois que o processo de Chroma Key não é mais do que uma espécie de veladura digital, sobrepondo uma imagem a um espaço de cor. Neste caso, à cor verde.

Na transição que se opera, da fisicalidade do quadro e da presença do espectador para a virtualidade da imagem gerada pelo programa, adentra-se novamente na pintura como um espaço representacional, no qual o plano bidimensional busca transmitir a ilusão de profundidade e semelhança com a realidade. Em "La trahison des images", pintura icônica de Magritte (não por menos presente no banco de dados de Quadro Curinga), o artista exibe a negação, em forma de uma sentença escrita, de que a imagem do cachimbo, rigorosamente representado na pintura, seria ela própria um cachimbo. Quadro Curinga conduz à negação semelhante, que é a negação da presença verídica do espectador no espaço onde se encontra o quadro famoso apresentado na imagem do programa. Ao ver-se nessa imagem, mais clara é a dissonância entre contemplar um quadro efetivamente e o estar ficcionalmente próximo a ele. Clarifica-se, também, a ideia, a qual ainda se conecta em grande grau à pintura, a despeito das investigações modernas, de que ela é um espaço ilusório representacional. O quadro verde, concreto e presente na galera, parece indicar, qual fez Lucio Fontana com suas investigações espaciais, para a verdade de que, mesmo as versões originais das pinturas que estão no banco de dados da obra, na sua maioria, intentam representar, mas que a pintura, sumariamente, é um plano bidimensional, e não uma janela para outra realidade. 

Assim, Quadro Curinga se faz numa constância de interposições segmentadas que abordam o tema da pintura sob muitos ângulos possíveis. Entre quadros concretos, quadros conceituais e quadros virtuais, a obra se desvela; o quadro verde, físico, o requadro da imagem gerada pelo programa, o quadro dentro desse requadro que se assume como uma pintura, a moldura de um espaço temporal em que são enquadrados espectador e obra numa situação de interação, etc. Como convém a um Curinga, os quadros se multiplicam, sem deixar de pertencer a uma base inalterável, situando-se na condição fronteiriça entre o divertimento, pois que os espectadores tendem a se divertir com o uso da obra, e a ironia, já que é o impalpável, a negação ao contato, o sumo da obra, e não a possibilidade de satisfação contemplativa que ela parece, a princípio, prometer. 







 

bottom of page