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Códigos-Fonte
 

Livro epigramático, “Códigos-fonte” é todo composto por quartetos rimados, de versos que, desobrigados do exercício da métrica, apresentam tamanhos multiformes. Em jus à característica do epigrama – poema breve, de cunho satírico – os textos do livro abordam, cada qual, de forma sentenciosa e, em geral, irônica, elementos do amplo leque de aspectos relevantes da vida social; valores incrustados na alma humana, sob os contornos de temas-chave variados, tais como o amor, o consumo, o envelhecimento, os bons modos, etc.


Não raro, inclusive, levando em consideração a possibilidade de múltiplas interpretações acerca de um mesmo assunto, aparecem poemas que imediatamente contradizem os anteriores. O que eleva o grau da ironia e demonstra que, ainda que a característica sentenciosa da epigrama esteja presente nos textos, o objetivo de obter alguma compreensão do existir é sempre tarefa a ser fazer, processo infindo de dúvidas e reelaborações perceptivas que nunca encontram inequívoca conclusão. Algo bem ilustrado pelo seguinte poema, presente no livro:


Sendo os próprios desejos pessoais contraditórios,
Justificativa para esperar muito do mundo em que vive não tem.
As opções que lhe sobram são olhar com bons ou maus olhos
A ideia de que tantas incongruências entre si convivem.





Não obstante, a ambiguidade é que, ainda que o próprio livro seja um atestado dessa impossibilidade de se ter constatação indiscutível sobre alguma questão, seus poemas arriscam-se a empreender a tarefa taxonômico-poética de destrinchar, com sua brevidade, a essência de determinados tópicos do existir. Assim, ora de forma divertida, ora de forma bela, e quase sempre sem desprender-se da crítica, acabam trazendo elucidações, mínimas, mas não irrelevantes, sobre a vida de modo geral. Com isso, eles tecem, no seu conjunto, um amalgama que, em referência ao título do livro, associa-se aos códigos-fonte de programação, demonstrando algumas diretrizes e a lógica ilógica de comandos e padrões comportamentais das quais a vida humana se serve, tanto em sua face objetiva, quanto subjetiva.


Não por acaso, em sua capa, fazendo um trocadilho imagético com o título do livro, há a imagem da obra “fonte”, de Marcel Duchamp. Se uma das inversões possibilitadas pelo artista ao desprover o objeto de sua funcionalidade e expô-lo – também invertido – como arte foi que ele pudesse ser visto como objeto em si, formalmente, e não como sua função, os epigramas trazem, também, característica de subversão semelhante, pois que costumam apontar para uma ideia nos primeiros versos e trazer um desfecho que, em alguma medida, a subverta nos versos finais. Nessa subversão, usualmente, revelam, assim como o faz a obra de Duchamp, assombrosamente óbvias constatações, obscurecidas por camadas de interpretações que as tenham sobrepujado. Constatações cuja elegante simplicidade, qual a vista nos textos de “Códigos-fonte”, imediatamente ressalta aos olhos.

Imagens de páginas do livro:

Ficha técnica: CARVALHO, Lucas. Códigos-fonte. Belo Horizonte: MordaSeuLivroAqui, 2012.



Tamanho: 10 x 17cm // 272 páginas.



Preço: R$ 30,00

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