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Ação Papel Transfer - 2010



Resumo>



A ação Papel Transfer foi planejada, por ocasião da Primeira Bienal universitária de Belo Horizonte, denominada Bienal Zero, que reuniu obras dos alunos da Escola Guignard e da Escola de Belas Artes da UFMG, como uma resposta à recusa da comissão julgadora em selecionar um trabalho meu para participar da exposição. Ela consistiu na entrega de 75 camisas, durante a abertura da mostra, aos visitantes, com a condição de que eles as usassem dentro da galeria. As camisas tinham escrita na sua fronte a palavra "Obra" + um número, iniciado no número 26, por razão de que foram 25 os artistas autenticamente selecionados para integrar a exposição. Dessa forma, quem entrou no ambiente expositivo vestido com uma das camisa tornou-se uma obra exposta e, também, uma obra minha a estar na mostra, de modo que, na noite da abertura, eu pude participar do evento com 75 obras ambulantes, que ocupavam intermitentemente espaço variados da galeira. 







































































































 

 

Memorial descritivo>



 

No dia 15 de setembro de 2010, foi realizada a abertura da primeira Bienal Universitária de Arte, intitulada Bienal Zero. O projeto busca instaurar um intercâmbio de pesquisas artísticas entre as duas principais escolas de arte belo-horizontinas, apresentando conjuntamente produções plásticas selecionadas dos alunos da graduação da Escola Guignard e da Escola de Belas Artes da UFMG. Bem como conta com a presença de alguns alunos convidados de outras instituições. Nesta primeira edição, foram trazidos alunos da UERJ, UNC e UNICAMP.



Os trabalhos selecionados foram dispostos em dois espaços de exposição, a Biblioteca Central da UFMG, que abrigou propostas em desenho, e a Galeria Principal da Escola Guignard, a qual ficou incumbida das performances e dos trabalhos fotográficos. Houve, portanto, duas aberturas, uma de cunho institucional na parte da manhã, que ocorreu na Biblioteca, e uma vernissage, à noite, na Guignard. Nessa ocasião, não tendo sido um dos 25 alunos selecionados da Escola Guignard para participar da mostra, realizei uma ação a qual nomeei Papel Transfer.

Antes que fosse permitido que os visitantes entrassem no espaço expositivo, distribuí, com ajuda de alguns colegas, 75 camisas aos presentes que se aglomeravam em frente à porta da galeria, com a condição de que as vestissem e entrassem, com elas vestidas, na exposição. As camisas possuíam, de estampa, a palavra “Obra” + uma numeração. Essa numeração iniciou-se a partir do número 26, indicando uma continuação numérica a partir dos 25 alunos selecionados institucionalmente, terminando no número 100, a última camisa, com a qual eu me encontrava vestido.



Cada pessoa que vestiu uma camiseta tornou-se uma obra própria e parte do conjunto de uma obra minha. Como não poderia ser impedida a circulação de pessoa alguma, independente da roupa que estivesse vestindo, aqueles que entraram com as camisas dentro do espaço expositivo, tornaram-se também uma obra exposta no local e, portanto, também uma obra minha a integrar a exposição.

Devido à grande quantidade de pessoas que prontamente aderiram à proposta, houve um grande contingente de obras-pessoas a circularem pela galeria, formando uma massa dispersa, mas facilmente discernível por todo o ambiente.



Interessou-me particularmente a dualidade, já mencionada anteriormente, colocada pelo fato de que cada pessoa seria um trabalho específico, em que se conjugariam suas características físicas e psicológicas como matéria plástica, e também seria uma obra minha, ou parte dela. Essa ambiguidade foi assimilada pelos participantes, muitos dos quais se proclamavam obra autônoma, ao mesmo tempo em que não reivindicavam a autoria do trabalho, conferindo-a a mim. 



O uso das camisas trouxe à tona alguns jogos relacionais que se desenvolveram de maneira espontânea. Pessoas requisitaram camisetas que contivessem números relativos às suas idades, ou números que lhes tinham algum significado especial. Algumas formaram grupos de acordo com as numerações como, por exemplo, dois amigos que andaram de braços dados, um portando a camisa “obra 66” e o outro a “obra 99”, enfatizando a inversão do numeral e, por conseqüência, relacionando-a a um significado concernente à relação de ambos.



Houve pessoas que realizaram pequenas ações, como a de permanecer por um tempo imóvel, associando-se ao modo tradicional de apresentação plástica, fortemente inscrito no imaginário popular, em que a obra encontra-se estática e destinada a contemplação visual. Também ocorreu de alguns interferirem sobre a estampa. Num caso notável, uma das participantes colocou a letra “s” antes da palavra “obra”, tornando-se “sobra”.



Outro aspecto de interesse notado foi a possibilidade de transferência das camisetas, com alguns dos participantes dando suas camisas a outros. Aquele que a retirava costumeiramente dizia-se deixar de ser obra para que aquele que a vestisse assumisse a função.

A ação não se restringiu, no entanto, à noite da abertura. Como os participantes puderam ficar com as camisas, já no dia seguinte foram vistas pessoas circulando com elas pela Escola Guignard, legando, ao trabalho, uma constante de exibição e recolhimento nos inúmeros espaços de exposição possíveis na vida dos seus usuários. Enquanto as estampas não se degradarem, visto que estampas feitas com Papel Transfer costumam apagar rapidamente, e enquanto as camisetas continuarem sendo usadas, a obra continuará a cumprir seu papel transferente de tornar quem a usa também uma obra. 

Texto que foi entregue junto com as camisas, explicando a proposta da ação: 

Vídeo-registro da produção das camisas que foram usadas na ação Papel Transfer:

Vídeo-registro do desenrolar da ação Papel Transfer:

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